by Margaret Hamlton, in ENEM
Posted on June 14, 2023 at 01:40 PM
Uma obra-prima da literatura brasileira escrita por Graciliano Ramos, publicada em 1938, o romance "Vidas Secas" é considerado um dos marcos do movimento literário conhecido como "romance regionalista" e retrata a vida miserável e árida de uma família de retirantes nordestinos.
A história se passa no sertão nordestino durante a década de 1930, em meio a uma das maiores secas já registradas na região. A narrativa acompanha a jornada de Fabiano, Sinhá Vitória, seus dois filhos e a cachorra Baleia, em busca de sobrevivência em um ambiente hostil e desprovido de recursos básicos.
O enredo de "Vidas Secas" se desenvolve através de uma série de episódios que ilustram as dificuldades enfrentadas pela família de retirantes. A falta de comida, a escassez de água, a exploração dos latifundiários e a ausência de perspectivas são alguns dos desafios enfrentados diariamente pelos personagens.
Fabiano é o protagonista da história, um vaqueiro analfabeto e marginalizado, cuja existência é marcada pela opressão e pelo desamparo. Sua esposa, Sinhá Vitória, enfrenta as mesmas adversidades, enquanto tenta proteger os filhos mais jovens. A cachorra Baleia, apesar de ser um animal, também é um elemento essencial na trama, representando a lealdade e a sobrevivência em meio à aridez do ambiente.
O romance retrata a desigualdade social e a injustiça através das relações entre os personagens e o ambiente opressivo que os cerca. A condição de miséria e a falta de oportunidades são fatores determinantes na vida dos retirantes, que estão presos em um ciclo de pobreza e exploração. Graciliano Ramos aborda questões sociais e políticas, expondo as injustiças e as desigualdades presentes na estrutura agrária do Nordeste brasileiro.
Um dos aspectos mais marcantes de "Vidas Secas" é a linguagem seca e objetiva utilizada por Graciliano Ramos. A escrita concisa reflete a aridez da paisagem, assim como a dureza da vida dos personagens. O autor utiliza uma narrativa em terceira pessoa, permitindo uma visão ampla da realidade vivida pela família de retirantes e da região em que estão inseridos.
Além da seca, a obra também aborda temas como a ignorância, a opressão, a fome e a solidão. Os personagens são apresentados em toda a sua humanidade, com suas fraquezas, desejos e sonhos frustrados. O autor mostra as contradições e os conflitos internos vivenciados por Fabiano, que oscila entre o desejo de melhorar sua condição de vida e a resignação diante das adversidades.
Outro aspecto relevante em "Vidas Secas" é a reflexão sobre a consciência social e a possibilidade de mudança. Graciliano Ramos retrata a falta de consciência política do protagonista e sua dificuldade em questionar e confrontar a ordem estabelecida. Fabiano representa o homem comum, oprimido e desprovido de conhecimento, cuja
única preocupação é sobreviver.
Ao longo do romance, Fabiano é confrontado com situações que expõem a injustiça social e as relações de poder desiguais. No entanto, ele muitas vezes se vê impotente para reagir ou questionar a ordem estabelecida. Essa falta de consciência política é um retrato das condições sociais da época, mas também uma crítica à apatia e à submissão que perpetuam a desigualdade.
No desfecho do livro, a família de retirantes deixa a fazenda onde estavam empregados, movidos pela esperança de uma vida melhor. No entanto, a dureza da vida no sertão e a falta de perspectivas continuam a assombrar os personagens, deixando uma sensação de desolação e impotência.
"Vidas Secas" é uma obra-prima da literatura brasileira que retrata com maestria as condições desfavoráveis enfrentadas pelos retirantes nordestinos. Através da prosa árida e incisiva de Graciliano Ramos, o livro oferece uma reflexão profunda sobre a desigualdade social, a injustiça e a falta de oportunidades que marcam a vida das pessoas que vivem nas regiões mais afetadas pela seca.
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